SEDE DA PETROBRÁS

Vitória ES
2005
 

 

MEMORIAL

OPORTUNIDADE DE CONSTRUÇÃO DE UM TERRITÓRIO
A paisagem sempre foi protagonista da cultura capixaba. Há bom destaque para os morros: o próprio traçado da reta da Penha, projeto de Saturnino de Brito, revela ao norte o morro do Mestre Álvaro, na Serra, e ao sul o morro do Convento da Penha, em Vila Velha. (fig. 1)
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A ARQUITETURA COMO PAISAGEM. A PAISAGEM COMO ARQUITETURA.
1 – O terreno da Chácara Paraíso no Morro do Barro Vermelho ainda hoje é um acidente topográfico. E é crucial que continue sendo, que tal condição não desapareça ao transformá-lo em cidade, perdendo os atributos naturais que ainda conserva.

2 – Reconhecido o sítio e tomada a decisão de sua preservação, é imperativo assinalar o lugar, tomar posse: um quadrado de 170 m. orientado na direção norte-sul organizará todas as intervenções humanas. O topo do morro ficará no meio, intacto. (fig. 2)
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3 – O partido arquitetônico divide o programa da UN-ES para estabelecer um diálogo respeitoso e propositivo com a cidade e seu meio-ambiente. Parte implanta-se na avenida, confirmando a responsabilidade social da Petrobrás na construção dos espaços de nossa cidadania, e parte se posiciona do outro lado do morro, conciliando simultaneamente proteção e usufruto dos recursos naturais. (fig. 3)
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4 – Em cima do morro, todas as espécies vegetais de porte serão mantidas. As pequenas aflorações rochosas também serão preservadas, bem como a Villa Aninha. Lá estará a escultura da Pedra Fundamental, o Orquidário, espaços para a “Memória Capixaba” e a “Ciranda Capixaba”. Um terraço natural, ambiente de reunião a céu aberto.

5 – Do lado do morro mais próximo à Praia do Canto, implanta-se um edifício-lâmina estabelecendo diversos vínculos com a topografia. Para quem chega ao conjunto vindo da reta da Penha, será apreendido como uma moldura da rocha e do terraço naturais. Porém a visão de quem está no terraço é totalmente livre, pois a lâmina ergue-se sobre pilotis e privilegia os vazios e a transparência em relação às áreas opacas da composição. Basicamente, instalam-se nesta edificação os ambientes que podem ser mais informais (biblioteca e refeitório) com acesso franco ao terraço do morro, e os ambientes fechados do programa (laboratórios e o núcleo de alta tecnologia: CRV, CIC e Datacenter).

6 – Lateralmente a este setor central e articulados a ele encontram-se três pequenos núcleos destinados a apoio da UN-ES: “empreiteirópolis”, almoxarifado e oficinas, e central de utilidades. São setores acessíveis aos automóveis e caminhões de maneira direta e funcional, desembaraçados dos ambientes de grande fluxo de pedestres.

7 – A maior representatividade urbana foi conferida ao prédio de escritórios. Será reconhecido como o prédio da Petrobrás e deverá ser a nova referência da cidade. Portanto, na porção mais urbana do terreno, mais acessível e mais visível, na face da reta da Penha, implantam-se os escritórios e tudo que funcionalmente é necessário estar junto: reuniões, multiconferências e auditório. Também nesse setor implanta-se o prédio de serviços das subsidiárias, com acesso direto ao público.

8 – Destacados do conjunto os escritórios, trata-se de procurar a forma mais apropriada para contê-los. Oferece-se assim, na entrada principal do Complexo Administrativo, uma praça com grande vocação pública. Numa visão contemporânea e necessária da relação entre público e privado, a Petrobrás poderá participar de maneira transparente e inequívoca da cidade de Vitória. (fig. 4)
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9 – Como decorrência dessa possível gentileza urbana, a loja de conveniência “BR Mania”, a farmácia, a revistaria e banca de jornais, a agência bancária, os caixas eletrônicos e a academia (health center) foram-se naturalmente ordenando e dispondo ao longo do perímetro da praça. A propósito da segurança, a praça foi erguida 3 m em relação à avenida numa espécie de plataforma. Todos os acessos podem ser controlados, caso se queira.

10 – Chega-se ao problema crucial da forma arquitetônica. A nova e emblemática construção deverá manter autonomia e respeito em relação à fábrica urbana. Trata-se de inserir o problema arquitetônico na sensibilidade multidisciplinar de nossa época e entendê-lo de maneira inseparável das outras áreas do pensamento: a paisagem, a escultura, a natureza, a arte etc. Deseja-se que o prédio de escritórios, peça chave da sede da UN-ES, seja entendido com uma gigantesca pedra elaborada, um “seixo rolado”. Esta pedra não pertence à cidade simplesmente, será parte da paisagem de Vitória.

11 – A base sobre a qual a nova pedra se apoia é continuidade da cidade, em alinhamento e discrição, um elogio à sua inteligência. É, em composição com a fachada ondulada horizontal, uma preparação prévia do terreno para a correta implantação da “torre”, permitindo que nasça desde o chão e tenha seu valor simbólico potencializado.

12 – Já a rocha contemporânea permite visualizar a arquitetura da sede UN-ES não mais como uma construção na cidade, mas como um novo acidente topográfico e assim encaixá-lo em uma longa série recorrente em toda a ilha e arredores: de grandes pedras, como o morro da Gamela, do outro lado da avenida, ou morro do Penedo, do outro lado da baía; de pequenas, como a pedra da Cebola; e agora uma pedra especial: a sede da Petrobrás. (fig. 5)
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13 – Superadas as condições de legibilidade convencionais e seguro da abstração proposta, os prismas da UN-ES caem como que por sorte sobre o terreno, como os dados de um jogo, para uma proposta audaz. Uma aposta que acredita que a arquitetura pode transpassar seus limites disciplinares e dissolver-se na paisagem.

LIGAÇÕES
14 – Cuidado especial foi tomado com a ligação entre os edifícios das duas partes principais do programa, a que se implanta na avenida e a que se posiciona do outro lado do morro. Pode-se passear sobre o relevo e aproveitar o percurso para conhecimento e prazer ambientais. O entorno principal desse passeio deverá ser melhorado com ajardinamento, mobiliário, iluminação complementar e especial cuidado com pormenores e acabamentos. Mas Vitória é uma cidade porto. E como tal é marcada pelas luzes e o movimento de seus engenhos. A Petrobrás, por sua vez, é detentora de grande conhecimento de engenharia. Assim, o projeto também previu naturalmente essa ligação através de um túnel, de maneira mais rápida e protegida. Uma rua cortada na pedra.

AMPLIAÇÕES
15 – O mesmo quadrado que assinala o lugar e organiza as intervenções da 1ª fase da implantação, serve de pauta para as ampliações da 2ª. O edifício-lâmina duplica-se compondo duas barras paralelas articuladas com conexões transversais. “Empreiterópolis” e almoxarifado guardam espaços vazios nas laterias para as ampliações previstas. Quanto aos espaços das edificações da praça, previu-se que as ampliações sejam em edificação semelhante à pedra elaborada. (fig. 6)
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SISTEMA CONSTRUTIVO, ESTRUTURA E INSTALAÇÕES
16 – O edifício de escritórios adota, a princípio, estrutura de concreto armado com núcleo rígido na parte central e pilares na periferia das plantas liberando os andares de qualquer elemento estrutural. Em linhas gerais, são lajes protendidas com 27 cm de espessura e 32 pilares periféricos afastados cerca de 10 m do núcleo quadrado com 12,5 m de lado. O sistema dispensa vigas transversais e longitudinais, o que permite a passagem das instalações prediais entre forro e laje. São plantas com cerca de 1.100 m² de área total, sendo 950 m² de área útil. Adotou-se 4,15 m de medida entre pisos, obtendo pé-direito de 3 m. Pisos elevados, montantes de caixilho, ar-condicionado e forros seguem a modulação 1,25 x 1,25 m. Os fechamentos externos, assim como os brises horizontais, foram pensados em elementos pré-fabricados de concreto com dimensões máximas de 3,5 x 7 m.

17 – Optou-se por eliminar o tradicional hall de elevadores por se tratar de escritórios de uma única empresa. Ainda assim, caso haja necessidade de configurar recepção ou controle de entrada em andares específicos, é possível fazê-lo. Quanto ao núcleo rígido com 5 elevadores lado a lado previu-se os sistemas onde o usuário registra o destino desejado em um terminal localizado no pavimento antes de entrar no elevador. Após indicar o seu destino, o passageiro é informado imediatamente através de um “display” integrado ao terminal qual será o elevador que o levará ao pavimento desejado. Conhecendo o destino dos passageiros o sistema agrupa os usuários reduzindo o número de paradas e permitindo que não haja um excesso de lotação nas cabinas.

18 – Quanto aos outros edifícios, todos podem, a princípio, adotar sistemas construtivos com estruturas pré-fabricadas em concreto ou mesmo metálica. Os fechamentos laterais deverão ser pré-fabricados, uma vez que todos os vãos são modulares.

DECISÕES TÉCNICAS E MOTIVAÇÕES TECNOLÓGICAS
O desenvolvimento científico e tecnológico e a ecologia, inteligentemente confrontados, são sempre compatíveis.
Lúcio Costa

19 – Empregamos conceitos bioclimáticos e de eco-eficiência, que não se pretendem disciplinas autônomas, e sim uma conciliação entre a forma, a matéria, a energia e o usuário, estabelecemos três níveis de decisões e motivações tecnológicas. Essas decisões objetivam também a obtenção de créditos para a avaliação LEED ( Leadership in Energy and Environmental Design) e deverão ser aprofundados nas fases de desenvolvimento do projeto.

Quanto ao sítio e ao entorno
a) Controle de erosão e sedimentação com a criação de barreiras físicas, em conjunto com barreiras vegetadas, paralelas às curvas de nível e justapostas às vias e cortes (níveis 2.00; 5.00 e 28:00).
b) Preservação máxima do relevo natural, edifícios implantados recompondo os eventuais cortes.
c) Acessos hierarquizados em função da vizinhança e do fluxo e porte dos veículos.
d) Preservação de áreas vegetadas atuais e adensamento com remanejamento de espécies de interesse e maior porte.
e) Transições vegetadas com o entorno e cinturões verdes sem copas rasantes, evitando obstruções à circulação dos ventos predominantes.
f) Manutenção das linhas de drenagem, construção de poços de acumulação e captação de águas pluviais para reaproveitamento.
g) Baixa impermeabilização do solo, 31% da área total.
h) Zonas de transição nos edifícios e proteção sombreada ao pedestre.
i) Sombreamento por vegetação na ordem de 35% da área total, com ênfase aos caminhos de pedestres.
j) Tetos plantados, quando não utilizados para captação fotovoltaica.
k) Edifícios junto à avenida Nossa Senhora da Penha, não ofuscantes.

Quanto às águas
a) Águas de serviço, incêndio e irrigação, provenientes das águas pluviais não potáveis.
b) Sistemas automatizados para redução do consumo de água potável e utilização de água reaproveitada nos banheiros.
c) Tratamento dos esgotos primário e secundário antes do lançamento na rede pública.
d) Reposição de da água gelada evaporada no processo (1%), por captação própria.

Quanto à energia
A energia fotovoltaica, o estudo de viabilidade de cogeração (uma vez definidos os combustíveis disponíveis) e a produção eficiente de água gelada serão decisões estratégicas no desenvolvimento do projeto. Algumas grandezas, que nos pareciam compatíveis com a fase de concepção e estudo preliminar, foram desde já consideradas, estabelecendo uma relação inteligente entre arquitetura e tecnologia.
a) Implementação de sistema auxiliar de energia, com o emprego de painéis de células fotovoltaicas conjugadas aos edifícios (BIPV) em brises horizontais, coberturas (a-Si) e vidros (c-Si), e uma possível interligação com a concessionária pública de energia elétrica.
b) Havendo disponibilidade de gás, a implantação de um sistema de cogeração e turbinas será objeto de estudo de viabilidade.
c) Utilização na Central de Água Gelada (CAG) de chiller com compressor tipo centrífugo aberto, com variador de freqüência, condensação a água e gás refrigerante R-134a.
d) busca de eficiência da ordem de 0,4 kW/TR, medido conforme normas ARI (IPLV), utilizando sistema de distribuição com anel primário e secundário; emprego de 02 chillers de 600 TRs conjugados a 02 torres de refrigeração.
e) estima-se uma potência instalada para a CAG de 1500 CV e para os Fancoils de 480 CV.
f) Sub-estação próxima à produção de água gelada (CAG) com distribuição em média tensão até os edifícios por galerias técnicas; o rebaixamento de tensão será feito nas unidades.
f) O espaço destinado ao sistema de ar-condicionado, nessa etapa, atende tanto ao conceito de “teto radiante” como ao de insuflamento por expansão indireta (VAV) por piso ou teto.
g) Máximo implemento de ventilação natural e cruzada, estabelecendo áreas de transição entre as proteções solares e caixilhos (ático ventilado); os brises apesar de oferecerem proteção contra as radiações diretas e difusas, não impedem a livre circulação dos ventos.
h) Coberturas com materiais de inércia térmica média, conjugados com materiais isolantes ou espaços ventilantes tangenciais.
 

FICHA TÉCNICA

PROJETO
2005

ARQUITETURA
Luciano Margotto
Marcelo Ursini
Sérgio Salles

CONSULTORIA
Eduardo Nogueira Martins Ferreira

COLABORADORES
Fabio Pilekas
Inês Martins
Mareny de Campos
Roberta Pereira Vilella
Rodolfo Scaletsky
Rodrigo Scaletsky
Simone Pires Nunes das Neves

AR CONDICIONADO E UTILIDADES
Carlos Margotto

ÁREA DO TERRENO
97.834 m²

ÁREA CONSTRUÍDA
32.412 m²