SEDE DA FATMA E FAPESC

Florianópolis SC
2012
 

 

MEMORIAL

Aqui é o lugar onde o espaço mais se parece com o tempo.
Clarice Lispector

Considerando o significado das atividades desempenhadas por cada uma das duas instituições – de gestão socioambiental [FATMA] ou de fomento à pesquisa científica e tecnológica [FAPESC] – imaginou-se um projeto que celebre a natureza do lugar e sua geografia e que, ao mesmo tempo, traduza vigor construtivo e avanço tecnológico. Se a estrutura e outros elementos construtivos são protagonistas, a inserção na paisagem é valor fundamental. O que se propõe não é apenas um edifício, mas um conjunto arquitetônico com: 1) ênfase na espacialidade interna, objetivando a integração dos usuários assim como da paisagem construída e natural; 2) máxima flexibilidade para a organização dos escritórios; 3) preocupação em se obter ótimo desempenho ambiental e econômico.

DISTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA: RELAÇÃO COM A CIDADE
O conjunto arquitetônico está organizado em duas partes: um bloco aéreo, a torre que concentra os escritórios, e um bloco inferior, ligado à rua, abrigando as atividades mais públicas do programa. Optou-se por dispor nesta base – no térreo –, aquelas atividades mais atinentes à instituição, como auditórios e biblioteca, junto ao interior do terreno, um pouco afastadas da rua, em razão de algum recolhimento que lhes são necessários. Já o atendimento e protocolo, atividades mais externas, localizam-se mais próximo à rua e, portanto, da cidade. O acesso é único, permitindo controle e segurança total do conjunto, e se realiza por meio de uma rampa suave que liga a rua ao pavimento térreo, levemente soerguido, configurando uma extensão do passeio que adentra os espaços e vazios interiores. Nos subsolos, além das vagas de estacionamento, situam-se as atividades para serviços de apoio aos escritórios, manutenção e depósitos.

A TORRE, O VAZIO E AS VARANDAS
A torre se desenvolve em torno de um vazio vertical que organiza o programa, seu funcionamento. É conformada por dois castelos de serviços paralelos – com circulação vertical, infraestruturas e apoios diversos – definidos pelas grandes paredes estruturais de concreto. Em uma das faces concentram-se os blocos sanitários e prumadas verticais de instalações. Na face oposta – oeste – concentram-se os elementos da circulação vertical, incorporando varandas que estão relacionadas às vistas mais interessantes da paisagem. Esse bloco servidor protege os escritórios da insolação mais hostil. As varandas valorizam os principais pontos cênicos da paisagem, sobretudo os morros, o mangue e o mar, acentuando sua presença. O vazio central, além da transparência interna que possibilita os escritórios se entreolharem, permite a implantação da área permeável como um jardim central no rés-do-chão e incorpora ao cotidiano os elementos quase sempre ausentes que animam esta paisagem interna.

A BASE PERFURADA – ÁREAS DE PÚBLICO
A ideia central do projeto é a integração dos espaços de distintas funções entre si e destes com a cidade. Considerando a cota de implantação do conjunto imposta pelo plano de massas aprovado na prefeitura, o embasamento resulta praticamente enterrado, em subsolo. A principal ação de projeto nessa base é a construção de vazios, uma espécie de perfuração que permite a criação de um micro clima aprazível, favorável ao aprimoramento da qualidade dos espaços comuns internos em razão da maior quantidade de luz, ventilação e vegetação, potencializando o contato social. A praça do terraço jardim no “pilotis” do edifício de escritórios por sobre o embasamento concilia os dois programas, permitindo tanto a utilização para eventos oficiais nos auditórios quanto para confraternização dos escritórios num café.

OS ESCRITÓRIOS: MODULARIDADE E FLEXIBILIDADE
A área disponível para os escritórios é integralmente livre, formada por espaços flexíveis. Todo o edifício é apoiado em dois blocos de serviços e três pendurais centrais, criando pavimentos tipo com planta livre, condição ótima para salas de escritórios nas mais diversas composições de layout. O projeto prevê facilidades para alterações constantes de arranjos, tanto para os espaços, quanto para os componentes de instalações prediais e de infraestrutura – piso elevado, forro e ausência de interferências no meio dos pavimentos.

ESTRUTURA E CONSTRUÇÃO
As paredes estruturais sustentam três grandes vigas de aço que, por meio de pendurais, estruturam as lajes da torre. Diferentemente do bloco inferior com sua estrutura regular de pilares e vigas de concreto, a torre paira sobre o conjunto. Essa concepção da estrutura permite vislumbrar a obra como montagem: simultaneamente à construção das paredes e do bloco inferior, a estrutura de aço é usinada e, quando finalizada a concretagem, o edifício é montado de cima para baixo.

CONFORTO AMBIENTAL E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Internamente, a espacialidade do conjunto arquitetônico, tanto na torre – na relação entre escritórios, vazio central e varandas – quanto na base – airada –, por assim dizer, celebra a diversidade. A diversidade incentiva pontos de vista diferentes que dão suporte a inovação e são importantes para resolver as desigualdades econômicas e sociais. A envoltória da edificação (fachadas e cobertura) permite o melhor desempenho térmico, acústico e lumínico, bem como a melhor proteção aos ventos, chuvas, ruídos, insolação e calor indesejados. Destaca-se a possibilidade de ventilação transversal a partir do vazio interno, além das estruturas de sombreamento – plano velador metálico nas faces norte-noroeste e sul-sudeste e quebras-sóis móveis nas varandas da face oeste-sudoeste – que conferem uma expressão arquitetônica ao conjunto.

Além das conhecidas ações de projeto que podem reduzir ou eliminar significativamente os impactos negativos do edifício em seus ocupantes e no meio ambiente, adotou-se como conceito central a busca por soluções com abordagens para gerar um efeito positivo desejado. Em síntese, presta-se atenção a todas as discussões contemporâneas que abordam os princípios de projeto para uma edificação pensada em termos de sustentabilidade nos seguintes grandes temas: 1) Mobilidade; 2) Eficiência energética e estratégias  bioclimáticas; 3) Gestão da água; 4) Paisagem e contexto urbano; 5) Materiais e resíduos; 6) Evolução e inovação; 7) Qualidade do ambiente interno e 8)Responsabilidade social.

O conjunto edificado se insere no tecido urbano do condomínio ParqTec Alfa como elemento convocador, nó de todo o parque, excepcional pelo significado das atividades ali desempenhadas, habitual por sua dimensão e singeleza, único por sua expressão.
 

FICHA TÉCNICA

PROJETO
2012

ARQUITETURA
Luciano Margotto
Moracy Amaral
Gustavo Delonero

COLABORADORES
Vito Machione
Cristina Tosta
André Nunes
Diogo Alves Gouveia
Alexandre Mendes
Henrique Martin te Winkel

ESTRUTURA
Ricardo Dias

ÁREA DO TERRENO
99.825 m²

ÁREA CONSTRUÍDA
9.167 m²