IGREJA MATRIZ

Cerqueira César SP
1989

> 2º LUGAR EM CONCURSO NACIONAL

 

 

MEMORIAL

A antiga matriz ocupava o centro da praça como um monumento isolado, destinando ao espaço livre um papel secundário. Optamos, pelo contrário, por uma implantação que configurasse diferentes momentos do espaço não edificado, orientados pelo percurso do usuário. O homem comum deve ocupar o centro do projeto. Não se trata, portanto, de considerar somente um eixo, mas todas as ruas que dão acesso a esse lugar – as vistas que se mostram para quem se aproxima, convidando-o à praça.

O duplo caráter do programa – local de culto e centro social – evidencia-se nos dois corpos edificados. Nos alinhamentos, eles ajudam a completar a calha da rua; nos pontos de maior fluxo de pedestres que chegam, os edifícios dão passagem, revelando pouco a pouco o interior da praça, onde os volumes se colocam com total liberdade.

No redesenho da praça, buscou-se ao máximo a integração do caminhar com espaços de estar, considerando o prosaico footing das cidades assemelhadas. Desse modo, por exemplo, o fluxo da rua Riachuelo é recebido por uma área de piso e árvores esparsas que também constituem espaço de estar que serve ao clube e à escola. O eixo que dá continuidade à rua Adolfo Maza Jr. tem ao fundo a torre e vai se abrindo em leque para comportar eventos populares, quermesses ou festivais. A escada convida pouco a pouco a subir – ou a sentar. Seus três braços conduzem ao centro social e às duas entradas da igreja.

A igreja é orientada na direção leste-oeste: o sol nasce para sua peça principal, o altar. A nave é clara, com a luz sustentando a cobertura que se inclina em direção ao presbitério, com ampla área de ventilação. O muro, que confere o recolhimento necessário, dobra-se segundo as exigências dos outros espaços integrados à nave e permite vez por outra a penetração da luz.

No exterior, o conjunto mantém a escala horizontal da cidade, sem deixar de se mostrar como instituição. Assim exprime seu caráter humano – fortemente assentado sobre a terra – e seu caráter sagrado, pois se volta para o alto. A parede de tijolo apresenta-se como uma sequência de eventos volumétricos, mesmo no caso das aberturas, tratadas como cristais encravados no muro.

Os anexos à igreja se mostram abrigados em um volume alinhado à rua. Sacristia e escritório paroquial se ligam por um pátio, que confere aos confessionários um ambiente de meditação. A livraria volta-se para a praça e para a rua, que mais adiante tem na marquise um elemento de balizamento.

Um deslocamento volumétrico sublinha a entrada do centro social, conduzindo ao bar que se abre em direção ao terraço, debruçado sobre o jardim. O bar articula salão de chá, biblioteca e clube, e grandes portas permitem a continuidade de espaço entre salão, hall de entrada, bar e terraço.

O grande salão, evidenciado volumetricamente, também pode se abrir para a praça, com entradas independentes. Logo no hall de entrada encontra-se o acesso ao pavimento inferior, onde a catequese e salas fazem um conjunto funcional integrado. Balizando o nível superior da praça, a torre anuncia a presença do novo conjunto à cidade.
 

FICHA TÉCNICA

PROJETO
1989

ARQUITETURA
Luciano Margotto
Marcelo Ursini
Sérgio Salles
Henrique Fina
Sérgio Bolivar

ÁREA DO TERRENO
13.400 m²

ÁREA CONSTRUÍDA
2.000 m²