UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE – PARQUE DO RIACHO

Brasília DF
2016

> MENÇÃO HONROSA EM CONCURSO NACIONAL

 

 

MEMORIAL

O partido adotado no projeto responde a um só tempo às condicionantes urbanísticas de Brasília – incluindo grandes áreas non aedificandi – e ao caráter da arquitetura que se pretende para o equipamento público Unidade Básica de Saúde.

EQUIPAMENTO PÚBLICO e LUGAR
O edifício de saúde compreendido como equipamento público tem papel fundamental na construção do lugar dentro do bairro Parque do Riacho. Sua posição ao lado de grande área livre e importante via de comunicação permite tratá-lo como referência urbana, representando e defendendo valores entre os quais estão as responsabilidades ambiental, econômica, social e cultural. A estratégia adotada para que o edifício atinja este objetivo se apoia em três conceitos fundamentais.
O primeiro diz respeito à maneira como se dá a ocupação do território. A implantação vale-se do eixo longitudinal do terreno para estruturar um grande pavilhão vestíbulo no qual se conectam transversalmente as alas que dispõem os setores de atendimento clínico. O acesso é o previsto pela face noroeste do terreno. Entretanto, futuramente prevê-se um segundo acesso – secundário, por ser apenas de pedestres – pela praça a ser construída na face sudeste do terreno.
O segundo consiste em pensar o edifício como objeto autônomo inserido na paisagem, que se integra ao entorno sem alterar significativamente o território. Por isso a idéia de pavilhões que “pousam” delicadamente no terreno. A volumetria é concisa, sintética, mas também forte por causa da escala e da imagem do edifício.
O terceiro envolve a adoção de um sistema construtivo claro e racional e de medidas que garantam o ótimo desempenho bioclimático e a sustentabilidade do edifício.

PÁTIOS
Internamente, todo o conjunto se estrutura a partir da espacialidade de pátios. Desenvolvido em planta, os vazios adquirem grande presença no interior do conjunto, na forma de pátios intimamente relacionados com as esperas, promovendo ambiência acolhedora e confortável. Essas praças internas também permitem que todos os ambientes hospitalares possuam iluminação e ventilação natural e possam ser abertos quando não houver restrições técnicas hospitalares.

ESPACIALIZAÇÃO DO PROGRAMA
O arranjo do programa está diretamente ligado com a disposição das peças edificadas no terreno. O primeiro pavilhão contém recepção, esperas, salas de acolhimento para classificação de risco e monitoramento dos pacientes e sala de vacinação. Demais áreas do programa distribuem-se estrategicamente pelas quatro alas transversais. Na primeira, mais próxima ao acesso principal, localiza-se o setor administrativo e o auditório de educação em saúde. A outras três alas abrigam o setor de atendimento clínico, sendo a segunda com procedimentos; a terceira com consultórios indiferenciados e consultórios de atendimento à mulher; e a terceira com os consultórios odontológicos. Na parte posterior das alas transversais localiza-se o setor de apoio técnico, com blocos autônomos estrategicamente interligados longitudinalmente.

ARTICULAÇÃO, CIRCULAÇÃO, INFRA-ESTRUTURA e APOIO TÉCNICO
Para conectar todos os setores, criou-se um espaço arquitetônico das instalações, uma estrutura longitudinal dupla, parte elevada e parte abaixo do piso – espinha dorsal de infraestrutura – com múltiplas possibilidades de ligação entre o pavilhão longitudinal e as alas transversais. A partir dessa estrutura linear todas as redes de infraestrutura se distribuem para o conjunto horizontalmente sobre as lajes ou sob os pisos quando elevados e dutos verticais especializados (shafts). As instalações são sempre acessíveis para manutenção. A circulação incorpora no desenho do percurso cotidiano os vazios dos pátios, acentuando sua presença.

MODULARIDADE, FLEXIBILIDADE e EXPANSIBILIDADE
O projeto prevê facilidades para alterações constantes de arranjos, tanto para os espaços, quanto para os componentes de instalações prediais e de infraestrutura. Prevê espaço técnico acima das lajes, a hipótese de piso elevado nas alas e circulações técnicas, e ausência de pilares no meio dos pavimentos. A área disponível para os setores de atendimento clínico tanto quanto para o setor administrativo é, realmente, livre. Esse conceito permite que a construção seja executada facilmente em etapas, assim como possibilita a ampliação do conjunto até o limite do potencial construtivo do terreno com novas alas transversais e um simples prolongamento do pavilhão longitudinal.

ESTRUTURA e SISTEMA CONSTRUTIVO
O sistema construtivo adotado permite uma execução rápida e precisa, altamente racionalizada. É composto basicamente pela estrutura metálica e por componentes industrializados para os sistemas de cobertura, de fechamentos e de divisórias. Isto significa mais controle sobre os processos e menos desperdícios. Esse conceito privilegia a economicidade e a agilidade construtiva.

ACABAMENTO e EXPRESSÃO ARQUITETÔNICA
A expressão arquitetônica do conjunto arquitetônico proposto está estreitamente vinculada às decisões de projeto que convergem no sentido de proporcionar uma obra organizada e eficiente com redução estratégica das ações construtivas. As estruturas serão tratadas e permanecerão aparentes, evidenciando-se a plasticidade do aço na maior parte da obra e do concreto em setores localizados e estruturadores também da composição. Demais elementos construtivos foram pensados como elementos móveis ou removíveis, objetivando a flexibilidade do uso do espaço. A utilização de cor nos elementos componíveis concorre para a desejada humanização no ambiente físico hospitalar.

SUSTENTABILIDADE
A orientação do prédio determinou a adoção de algumas decisões de projeto para controlar a insolação e para tirar proveito da iluminação e ventilação naturais. As varandas que estão localizadas na fachada noroeste criam uma zona de proteção para o interior do edifício. Grandes beirais, além da possibilidade do artifício de telas e brises horizontais, barram o sol indesejável e a velocidade dos ventos, ao mesmo tempo em que os amplos caixilhos permitem a entrada da luz natural devidamente filtrada. Os caixilhos podem ser abertos, se as atividades assim permitirem, proporcionando a ventilação cruzada dos ambientes (de qualquer maneira, o ganho térmico será bastante reduzido, o que melhoraria consideravelmente o desempenho dos sistemas de refrigeração de ar). Propõe-se a adoção de sistemas de reuso de água para irrigação dos jardins e para as bacias sanitárias. Opcionalmente, a proposta está apta a acolher o uso de painéis fotovoltaicos para prover parte da energia usada no edifício. Estes equipamentos estariam localizados na cobertura, aumentando a eficiência dos sistemas e ajudando a compor a imagem do edifício. As demais centrais de utilidade (central de gases, subestação, gerador, caixa d’água e central de tratamento) foram distribuídas no terreno de acordo com as necessidades específicas de cada grupo.
 

FICHA TÉCNICA

PROJETO
2016

ARQUITETURA
Cristina Tosta
Luciano Margotto
Carlos E B Garcia

CONSULTORIA
Sérgio Salles

COLABORADOR
Diogo Alves Gouveia

ÁREA DO TERRENO
9.779 m²

ÁREA CONSTRUÍDA
1.672 m²