SESC FRANCA

Franca SP
2013
 

 

MEMORIAL

A principal intenção deste projeto é proporcionar à cidade de Franca um espaço generoso e oferecido a todos que, apesar de controlado, será aberto e facilmente usufruído. Conflui com a ideia que a arquitetura não subtrai, separa ou resguarda, mas adiciona, agrega e regenera o espaço da existência coletiva e da urbanidade. Cabe a esta nova unidade Franca prosseguir a missão do SESC de acompanhar não apenas as grandes transformações sociais e culturais de nossa realidade, mas de gerar novos modelos de ação cultural a serem reproduzidos e recriados, re-significando continuamente a desejável articulação entre a dimensão arquitetônica e o papel social e urbano dos equipamentos educativos.

O projeto está organizado em um único bloco e forma a permitir uma rápida apreensão do conjunto por parte do usuário que poderá construir livremente os percursos entre os diferentes espaços e atividades à maneira do comportamento do pedestre nas ruas e praças da cidade, desta forma, eleger livremente as atividades que deseja participar. O que se propõe, portanto, não é um edifício isolado e auto-suficiente, mas um conjunto edificado aberto, um enredo que seja capaz de urdir uma urbanidade. A aparente complexidade do programa se desfaz, organizado pelo espaço e pela construção, pela transparência, pela arquitetura.

ARTICULAÇÃO COM O ENTORNO: ESTRUTURAÇÃO DO TERRITÓRIO URBANO
Em meio a uma estruturação fundiária descontinua e de usos mistos da vizinhança, a implantação do SESC Franca representa uma oportunidade para organização e hierarquização do território urbano. Aproveitando da topografia acidentada se estabelecem dois planos principais: um mais ligado à cidade e à porção frontal do terreno que se relaciona com o córrego existente e outro mais elevado destinado às atividades do SESC. Conforma-se, desta forma, uma praça aberta a cidade  marcada ainda por uma nova rua ou via de acesso de automóveis, bicicletas, pedestres onde situa-se o acesso principal ao conjunto. Este nível inferior aberto abrigará ainda uma massa arbórea densa, como um bosque, recompondo parte da cobertura vegetal original removida. Essa estratégia permite ainda implantar no térreo inferior todo o programa mais externo do SESC, inclusive serviços e máquinas necessárias ao seu adequado funcionamento.

QUATRO PLANOS ESTRUTURAIS, TRES VAZIOS
Quatro estruturas aéreas em aço, paralelas entre si, conformam três espaços vazios que abrigarão os programas e atividades do SESC. Estes planos estruturais extensos sobre reduzidos apoios sugerem uma massa construída que paira sobre o território. O vazio central permanece como tal. Os módulos do programa estão nos volumes dispostos nas faixas laterais organizados ao longo do feixe estrutural. São planos horizontais transversais que coadunam as estruturas e abrigam as atividades, como blocos paralelos.

ESPAÇO CENTRAL: PRAÇA DE CONVIVÊNCIA
No espaço central definido pelas treliças estruturais duplas, situa-se a Praça de Convivência. Todo o programa está distribuído e relacionado com este espaço de convivência, uma praça que abrigará cotidianamente usuários e funcionários como ambiente essencialmente informal e, por sua amplidão, como possível área para exposições ou eventos não convencionais como rodas de estórias, performances teatrais e apresentações musicais. A partir deste espaço estarão visíveis o fruir artístico, a educação não formal e as atividades lúdico-desportivas. Com uma exceção, pairando sobre este vazio central, localiza-se a Biblioteca cuja cobertura é utilizada como espaço de estar e leitura descontraída provida de visuais urbanas alongadas. Sob esta estrutura conforma-se um espaço mais controlado destinado as exposições.

MÓDULOS DO PROGRAMA: BLOCO OESTE
No faixa mais estreita, com 18 metros de vão, ao lado com Conjunto Aquático, localizam-se as atividades que requerem espaços mais restritos e confinados como Restaurante, Salas de Atividades, Computação e Núcleo Gerencial. Estes ambientes abrem-se tanto para cidade e para os espaços internos reforçando a desejável noção de transparência e intercambio das diferentes ações em curso.

MÓDULOS DO PROGRAMA: BLOCO LESTE
No faixa mais larga, com 36 metros de vão, está implantado o conjunto de quadras esportivas e o bloco do teatro. Relacionados entre si permitem uma utilização invertida do palco do teatro. Em razão desta organização a plateia necessária com 18 metros de vão é um elemento destacado que está atirantado na estrutura principal na cobertura, permitindo que suas laterais sejam em vidro e abertas ao conjunto, descortinando os acontecimentos internos. Quando o uso requerer estes planos transparentes os ambiente poderão ser fechados por meio de cortinas especificas para este fim. Neste bloco, a caixa cênica juntamente com a torre de sanitários, reservatório de água, relógio são os únicos elementos que – como exceção – extrapolam a altura total do volume aéreo construído que possui três pavimentos. Os serviços e atividades de apoio do teatro situam-se no nível da nova rua interna facilitando seu acesso e uso.

TORRES E VARANDAS DE CIRCULAÇÃO
Todos os elementos de circulação vertical (elevadores, escadas fixas abertas e fechadas, além de escadas rolantes) localizam-se no espaço central e, por serem transparentes, incorporam no cotidiano o movimento dinâmico dos corpos e dos equipamentos mecânicos. As tramas estruturais internas formadas por duas treliças de aço paralelas constituirão as varandas de circulação horizontal, interligadas por pontes metálicas que cruzam o vazio central. Destas varandas é possível desfrutar visualmente de todas as atividades em curso nos espaços.

ACESSOS CONTROLADOS
O ingresso ao conjunto, apesar da extensão da praça aberta proposta assim como da praça de convivência no plano imediatamente superior, se realiza no plano da rua proposta levemente soerguida da rua principal. Vista da rua, este único acesso, uma praça anterior, é quase uma “não-porta”. O acesso de veículos localiza-se em um dos limites da nova rua interna. O estacionamento – sob o plano de atividades esportivas – está em nível elevado em relação à rua e ao lençol freático o que permite viabilizar sua execução. Estrategicamente localizada junto a esta rua encontram-se todos os ambientes que atendem às questões operacionais de funcionamento do conjunto.

ASPECTOS CONSTRUTIVOS: RACIONALIDADE E SIMPLICIDADE DOS ACABAMENTOS
Como toda a estrutura aérea proposta será executada em aço e, portanto, se trata de montagem e uma obra seca. Já os blocos inferiores até o plano elevado proposto serão executados em estrutura de concreto aparente. Isto permitirá que a estrutura metálica seja produzida simultaneamente à execução da porção inferior, abreviando o prazo de construção do conjunto. A estrutura longitudinal configurada pelos quatro planos paralelos metálicos será velada por uma pele de chapa metálica perfurada que amaina a rigidez da estrutura metálica além de conferir permeabilidade à luz natural, aliado ao caráter uniformizador que um único elemento de fechamento confere à estrutura, apesar de sua extensão. Com a mesma austeridade que marca a execução da superestrutura se imagina materiais de acabamentos simples e contínuos como piso elevados drenantes nas áreas externas, pisos elevados com instalações nas áreas internas, planos de vidros, forros metálicos, instalações prediais aparentes.

SISTEMAS E REDES
As redes e feixes de instalações se organizam ao longo da estrutura longitudinal que abriga na sua cobertura máquinas de ar condicionado, reservatórios superiores, placas coletoras para aquecimento solar a ser empregado na água de banho, nas piscinas e na cozinha. É ainda o lugar ideal para implantação de células fotovoltaicas para suprir sistemas de iluminação e força. As varandas de circulação são também dutos horizontais que acomodam em diferentes planos calhas de eletricidade, tubulação hidráulica, cabeamento estruturado e circuitos internos de supervisão e controle predial que se distribuem para todos os blocos plugados no sistema.

ECO-EFICIÊNCIA: ALTA QUALIDADE AMBIENTAL
Internamente, a espacialidade desse conjunto arquitetônico, tanto nos módulos programáticos quanto na relação entre eles intermediada pelo vazio central e varandas – uma composição airada –, por assim dizer, celebra a diversidade. A diversidade incentiva pontos de vista diferentes que dão suporte a inovação e são importantes para resolver as desigualdades econômicas e sociais. A envoltória da edificação (fachadas e cobertura) permite o melhor desempenho térmico, acústico e lumínico, bem como a melhor proteção aos ventos, chuvas, ruídos, insolação e calor indesejados. Finalmente a nova unidade além das conhecidas ações de projeto que podem reduzir ou eliminar significativamente os impactos negativos do edifício em seus ocupantes e no meio ambiente, adotou-se como conceito central a busca por soluções com abordagens para gerar um efeito positivo desejado.

Em síntese, presta-se atenção a todas as discussões contemporâneas que abordam os princípios de projeto para uma edificação pensada em termos de sustentabilidade nos seguintes grandes temas: 1) Mobilidade; 2) Eficiência energética e estratégias  bioclimáticas; 3) Gestão da água; 4) Paisagem e contexto urbano; 5) Materiais e resíduos; 6) Evolução e inovação; 7) Qualidade do ambiente interno; 8)Responsabilidade social.

Construir este conjunto é, no nosso entendimento, construir uma parte de nossa cidade, uma cidade para todos. É compreender o SESC como sistema – algo mais forte que um objeto isolado – uma instituição forte e partícipe na edificação da sociedade e de sua cultura como um fazer coletivo.
 

FICHA TÉCNICA

PROJETO
2013

ARQUITETURA
Luciano Margotto
Gustavo Delonero
Alvaro Puntoni
João Sodré
André Nunes

COLABORADORES
Alexandre Mendes
Carla Kienz

ÁREA DO TERRENO
20.229 m²

ÁREA CONSTRUÍDA
15.980 m²