ÁGUA ESPRAIADA – ÁREA 32

São Paulo SP
2010
 

 

MEMORIAL

Este projeto integra um programa da Secretaria de Habitação da Cidade de São Paulo – Sehab para elaboração de projetos de aproximadamente quatro mil unidades habitacionais no âmbito da Operação Urbana Consorciada Água Espraiada – OUCAE. Definidos alguns parâmetros comuns, escritórios de arquitetura puderam flexibilizar as soluções conforme as características de cada contexto e programa.

A EXPERIÊNCIA DA OPERAÇÃO URBANA NA ÁGUA ESPRAIADA ¹
Elizabeth França

“Em 2009, A Secretaria de Habitação da Cidade de São Paulo (Sehab) se viu frente a um grande desafio: elaborar projetos para aproximadamente quatro mil unidades habitacionais, a serem construídas no território da Operação Urbana Água Espraiada, destinadas para parte das famílias que vivem nas favelas da região. Para tal, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) deram início à pesquisa de terrenos existentes na região, de modo a criar um banco de terras a serem desapropriadas para tal fim. Após meses de pesquisa, verificou-se a riqueza de possibilidades que se apresentavam: terrenos das mais diversas dimensões, conformação topográfica, localização, entre outros aspectos.

Inspirados nos exemplos da tradição moderna de habitar, a Hansaviertel e seu antepassado ilustre o Weissenhofsiedlung, a equipe da Sehab se propôs a iniciar uma experiência que expressasse a forma de habitar na cidade contemporânea. Ambos são bons exemplos, a partir do qual se poderia refletir sobre a habitação e acidade, mesmo que desenvolvidos em um momento de vigência dos paradigmas modernos.

Foi aí que convidamos doze escritórios de arquitetura para em um espaço de reflexão, apoiados no Fórum de Lideranças locais, elaborar projetos que representassem a vontade de se construir uma cidade inclusiva, em que a lógica tradicional da operação urbana fosse invertida e as famílias, que moram nas favelas da região, se mantivessem próxima a seus bairros, conservassem suas atividades de trabalho e, principalmente, as redes sociais construídas ao longo de décadas.
[…]

AS FORMAS DE HABITAR NA CIDADE CONTEMPORÂNEA
A inspiração trazida dos dois modelos desenvolvidos na Alemanha, Weissenhofsiedlung (1927) e Hansaviertel (1957), que buscavam os caminhos a serem seguidos frente à necessidade de produzir novos modelos de habitação para tal um conjunto de profissionais que desenvolveriam protótipos da habitação moderna, não significava repetir a experiência.

Apenas considerávamos importante, formar um coletivo de arquitetos que desenvolvessem os projetos a partir dos desafios da cidade contemporânea, ou seja, projetar milhares de unidades com novos programas adequados Às exigências das famílias que moram nas favelas da região. O desafio apresentado aos arquitetos foi o de respeitar o sentido de coesão social existente entre os moradores e seus vínculos com o lugar, o que significava desenvolver os projetos muito próximos ao Fórum de Lideranças, afastando de vez o fantasma da expulsão das famílias mais pobres da área.

Por isso, os doze escritórios de arquitetura, responsáveis pela elaboração de projetos para as primeiras quatro mil unidades, tiveram como ponto de partida terrenos das mais diversas dimensões, localizados de forma dispersa no território da operação, os quais dialogam com vizinhanças horizontais e verticais dependendo da localização no extenso território da OUCAE.

A atualização do programa da casa contemporânea significava explorar possibilidades tais como os ‘espaços coletivos para a educação’, lavanderias comunitárias liberando a área que essa atividade ocupa na unidade individual, espaços para atividades comerciais a fim de atender à demanda dos que exercem tais atividades nas suas casas atuais, equipamentos públicos como creches, unidades de saúde e outros a serem definidos com o Fórum, como no exemplo do Jardim Edite. O grande número de terrenos de variadas dimensões, dispersos no território da OUCAE e a construção do Fórum de lideranças, são os grandes diferenciais dessa experiência em relação às anteriores – aqui as famílias dos bairros mais pobres são os verdadeiros beneficiados da valorização imobiliária da região, o que caracteriza como experiência única na cidade de São Paulo e, à semelhança das suas antepassadas alemãs, ajuda a construir as diretrizes para as formas de habitar na cidade contemporânea.”

¹ Elizabeth França, “A Experiência da Operação Urbana Água Espraiada”, in Habitação e Cidade #4. SILVA, Luis Octavio de Faria e; OTERO, Ruben (orgs.). São Paulo: Editora da Cidade, 2013, pp. 208-220.

ÁREA 32
Considerando a dimensão do lote tipicamente urbano e as condicionantes legais (taxa de ocupação, coeficiente de aproveitamento, recuos, afastamentos para iluminação e aeração), optou-se pela disposição longitudinal em um único bloco. Desta forma quatro unidades habitacionais situam-se na porção interna do terreno, após o bloco de circulação vertical mais próximo da rua, e um quinto apartamento se abre para a rua como um encabeçamento do conjunto. Cinco pavimentos totalizam 24 unidades. As áreas comuns de uso do condomínio situam-se junto à rua sob este bloco de unidades rotacionadas e voltadas à cidade. Os acessos são feitos por uma escada, que leva diretamente ao bloco de circulação vertical, ou pelo portão de serviço que permite ainda uma vaga de estacionamento para PNE e carga/descarga. A cobertura, onde concentra os reservatórios superiores, também se presta como uma área de uso condominial descoberta (desprovida, no entanto, de elevador e, portanto sem acessibilidade universal), mas importante como alternativa de lazer.
 

FICHA TÉCNICA

PROJETO
2010-14

ARQUITETURA
Luciano Margotto
Alvaro Puntoni
João Sodré
João Yamamoto
André Nunes

COLABORADORES
Gustavo Delonero
Diogo Gouveia
Flora Fujii
Mario do Val
Rafael Chung
Alexandre Mendes

TOTAL U.H.
24 unidades

ÁREA DO TERRENO
794 m²

ÁREA CONSTRUÍDA
1.589 m²